Cópia e pirataria virtual também é crime! Não copie sem autorização!


quinta-feira, 25 de março de 2010

4 Cantos

Creative Commons License
4 Cantos by Gláucia Hamond Coutinho is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 3.0 Brasil License.

Ronaldo Yvanov, 42 anos, publicitário renomado. Conceituadíssimo no mercado carioca e nacional, morava só, numa belíssima e luxuosa cobertura na Lagoa. Uma vista paradisíaca! A Lagoa de frente e o Cristo, com toda sua resplandecência, ao lado.

Sua namorada, Janaína, de 35 anos, era uma linda sansei de olhos esverdeados. Era louca de paixão por Ronaldo. Talvez até morresse por ele!

Ronaldo era sócio-majoritário de uma grande agência de publicidade. Ele detia a conta da maioria das grandes marcas nacionais. Mas, seu sócio Pedrão, que mais pensava em mulher do que nos próprios negócios, sempre deixava algum furo nas negociações e estava sempre chegando atrasado para tudo. Isso preocupava Ronaldo... Sendo assim, ele já tinha em mente o que faria: terminar sua sociedade e iniciar outra com alguém de pé no chão. E Laura, uma afro-descendente, tipo mulata do Sargentelli, era uma ótima sócia em potencial! Mulher, negra, boa aparência, lésbica e workaholic. Combinação perfeita! Bem apessoada para causar boa impressão nos negócios internacionais. O fato de ser mulher e negra constataria que Ronaldo, além de totalmente isento de preconceitos (como realmente era) não era um sujeito machista. E Janaina não criaria caso com horas extras e jantares desmarcados por conta de alguma reunião de última hora já que não teria ciúmes de uma “sapatona”. Além disso, o trabalho fluiria de vento em popa já que ela era uma trabalhadora incondicional.

Ronaldo já consultara inúmeros advogados, de fora do Rio, claro, para não levantar suspeitas, sobre como poderia descartar seu futuro-ex-sócio da maneira mais rápida, barata e eficaz. Doutora Liliane Rocha, 47 anos, era perfeita pro caso. Discreta e eficiente. Loira, elegante e de modos refinados. Falava pausadamente um português impecável e com riqueza de detalhes. Nos braços, nos dedos e no pescoço, muito ouro! Denunciando assim a ótima situação financeira. Com base nessas informações, dava a crer que era uma excelente profissional e conseqüentemente, faria o melhor possível para Ronaldo não levar a pior.

Com esta carta na manga, ele já visualizava a possibilidade de marcar uma entrevista, com Mary, sua amiga de faculdade, que era jornalista. Ruiva e alta, parecia descender da Inglaterra. E como toda boa britânica, sua pontualidade era seu forte. O que ele tinha em mente era, que após sua ruptura com Pedrão, daria a ela um furo de reportagem, onde contaria a sua mais nova aquisição (que já estava em andamento por debaixo dos panos). E era nada mais, nada menos, que a conta da Coca-Cola! Pasmem! E acreditem quem puder... Ronaldo seria o responsável pela publicidade da marca, não só no Brasil, assim como no mundo inteiro! Carinha de sorte, esse Ronaldo, não?

Com tantos planos em mente, contas em processo de briefing, negócios em andamento e captações de novos clientes, Ronaldo acaba se enrolando com sua agenda super lotada e marca seu encontro com Janaina e reunião com essas outras 3 mulheres, na mesma bat-hora e mesmo bat-local : seu apartamento...

Ele ligara pela manhã para Janaina, dizendo estar com muitas saudades já que não se viam há mais de uma semana. O mesmo acontecera com as outras 3 mulheres. O encontro com a futura-sócia, tinha sido marcado há 5 dias atrás. A entrevista com sua amiga jornalista, a Mary, foi agendada quando ela o telefonou no mês anterior, há exatos 30 dias. E a reunião com a advogada, teria sido apontada por intermédio de sua secretária, que não contaria nada a ninguém, por se tratar de sua irmã gêmea, Roberta.

Agora você deve estar se perguntando como um cara tão bem sucedido e responsável, não teria anotado esses compromissos todos, pelo menos numa simples agenda de papel... Simples e elementar, meu caro Watson! Tirando o encontro amoroso com Janaina, o resto era absolutamente sigiloso. E tais encontros ficariam mais “camuflados” se marcados em sua própria residência. Ronaldo, que era figurinha conhecida nas colunas sociais, e constantemente perseguido por paparazzis, não poderia dar um mole desses. Era melhor não arriscar. E se marcasse alguma reunião em sua agência, ou anotado em algum lugar, Pedrão desconfiaria na certa! E as informações sigilosas poderiam vazar.

Mas Ronaldo nem imaginava que sua chapa estava prestes a esquentar. Melhor dizendo, o circo iría pegar fogo! Ia ter japonesa “rodando a baiana”, dama inglesa “quebrando o barraco”, mulata “descendo o morro” e loirinha (que de burra não teria nada) processando a torto e a direito...

Sexta-feira, dia dos encontros. E Ronaldo, que tinha virado a noite na criação de uma nova e revolucionária embalagem no mercado de garrafas-pet, nem se dava conta do que estava por vir. Até porque ele nem se quer lembrava dos compromissos assumidos praquela manhã. Talvez o alto índice de cafeína tenha feito ele se esquecer. E ele, enrolado numa toalha, se preparava para entrar no banho e seguir em frente com mais um dia de trabalho para garantir o “seu pão de cada dia”. E que pão! No mínimo, um croissant recheado com caviar! Aposto!

Nisso, na portaria de seu prédio, todas as 4 mulheres aguardavam a chegada do elevador. E Zezinho, o porteiro mais fofoqueiro da zona sul, já dava sua conferida habitual nas curvas das 4 beldades. E quando indagava para onde elas estariam indo, conteve o riso ao notificar que todas estavam indo para o mesmo local. A cobertura. E ele sabia que a única cobertura ocupada no momento era a do “seu” Ronaldo. Já imaginando o que estava por vir, ou achando que imaginava alguma coisa "a mais", pega o telefone e liga para seus parceiros dos prédios vizinhos.

O elevador chega e todas “embarcam”. Cada uma se posiciona num dos 4 cantos do mesmo e apertam simultaneamente o mesmo botão. Dá-se inicio a um constrangimento sem igual. E todas, cada qual com sua fantasia, começam a pensar quem seriam as outras 3. E aí, eis que o elevador trava no sétimo andar. A cobertura ficava no oitavo. Um misto de susto, medo e desconfiança toma conta do pequeno espaço. E todas, sem exceção, começam a imaginar que as outras 3 poderiam ser, de alguma maneira, suas rivais. Janaina tenta decifrar qual delas seria a amante, a garota de programa e a aquela que Ronaldo estaria “comendo” pra se dar bem e conseguir alguma conta nova pra sua agencia.

Doutora Liliane se decepciona achando que Ronaldo, nada profissional, estaria fazendo uma pesquisa de mercado para ver qual das 4 advogadas teria os honorários mais baratos.

Mary, sua amiga jornalista, fica mau ao perceber que sua reportagem não seria furo algum e sim, uma coletiva.

E Laura se dá conta que ela não seria a única sócia de Ronaldo. Outras 3 estariam no páreo também.

Com tanta imaginação rolando num espaço tão apertado, todas começam a ter pensamentos maldosos em relação a Ronaldo. E ao mesmo tempo em que pediam socorro, gritavam por ajuda e esmurravam a porta do elevador, elas iam colocando toda sua raiva nas palavras e pancadas, como se estivessem socando e xingado o “traidor”. Engraçado que todas tinham o mesmo pensamento: descontar toda sua ira no “pobre” (notem que coloquei a palavra entre aspas, no sentido figurado, OK?). Praticamente uma piada! Que seria cômica se não fosse trágica... Cada uma imagina Ronaldo, no centro do elevador, levando bordoadas de todas elas.

Enquanto isso, na portaria, inúmeros porteiros, de diversos edifícios, cada qual com seu determinado e diferenciado uniforme, se aglomeravam junto aos moradores que entravam e saiam do prédio. E a algazarra começa a ser estabelecida, por conta da língua frouxa de Zezinho. Quando de repente, a coisa começa a esquentar pra valer! Muitos gritos, socos na porta do elevador, e a correria de vizinhos pra cima e pra baixo do condomínio. O sindico aparece e pergunta a Zezinho o que estava acontecendo. O porteiro, por ser nordestino, começa a narrar tudo com expressões e sotaque que lhe era peculiar. Tudo isso reunido a um grande e surreal exagero em sua narrativa. E ele dizia ao síndico:

_”Seu Manoel... Eita, Vixe Maria! Tá o maior balaio de gato no elevador! Tá uma confusão da bexiga! Tem pra mais de 4 dona quereno esfolar o cabra da peste! É lapada pra tudo que é lado! Acho inté que tinha uma com a peixeira nos quarto! E a pizinga desse elevador deu agora pra parar de hora em hora!. Vai dar certo não! To avisano! Bem que eu tava apressentindo arguma coisa! Não foi à toa que mainha me avisou pra ter cuidado aqui no sul... Meu Padim Pade Ciço que nos alumeie! Eu, o senhor, chamava a puliça e pra modo de tirá as dúrvidas, chamava embulança tumem... Seu Ronardo, hein? Hummmmm... Quem diria?... Ô sujeito pra gostar de um rabo de saia...”

E o sindico, sem entender da missa o terço do que tinha escutado, fala pra ele chamar os Bombeiros, pra retirar do elevador as pessoas, o gato e a cabra (pelo jeito foi isso mesmo que ele entendeu). Zezinho, por sua vez, não achou que seria o suficiente. Além dos Bombeiros resolveu chamar também a Policia Militar, o Samu, a Defesa Civil e alguns jornalistas que residiam nas proximidades. Zezinho não perderia a oportunidade de se gabar com seus conterrâneos que apareceria na primeira pagina dos jornais e na tv, dando entrevista e tudo!

E com a chegada de toda essa turma, aí que o circo tava realmente armado!

Baderna era pouco! O lugar tinha virado um verdadeiro pandemônio! E Ronaldo, ao perceber tanto barulho, começa a imaginar, que algo deveria estar fugindo do controle de alguém... Só que esse “alguém” era ele! E ao caminhar até a porta principal de seu apartamento, passa pela cozinha e olha para o calendário que decorava a parede do ambiente. Sexta-feira, dia 13! E a ficha caiu! Era hoje! O dia do encontro... O dia da entrevista... O dia da reunião... O dia do acordo... Meu Deus do céu! O dia do AZAR!

Ele se encaminha para o corredor de seu andar. Percebe o elevador parado entre o sétimo e oitavo andar. Reconhece as vozes. E se esquece que estava praticamente nu. De repente, ouve-se um barulho de maquina ligando, como roldanas reiniciando seu trabalho. Era o elevador que voltava a funcionar. A porta do mesmo se abre com um rompante e as 4, que mais pareciam felinas primitivas, pulam de dentro do elevador, caindo por cima do sujeito aterrorizado, como se tivessem sido ejetadas por um canhão! E elas começam a bater no coitado, pedir explicações, xingar e berrar. Todas ao mesmo tempo! Ronaldo se assusta e corre fugido para seu apartamento. Elas ainda conseguem segurar a ponta de sua toalha, deixando o rapaz completamente nu, do jeitinho que veio ao mundo. Ele bate a porta na cara daquelas feras ensandecidas. Com o corpo colado à porta, mas agora seguro, deixa-se escorregar porta abaixo. Caído ao chão, ofegante, nervoso e ainda meio tonto por conta daquela confusão danada, tenta buscar alguma explicação para o acontecido. E é ai, nesse exato momento, na posição em que se encontrava, sob um ângulo de 45 graus, que ele vislumbra a silhueta do Cristo Redentor - rodeado por nuvens tão claras que pareciam ter o formato de anjos celestiais. Ele, com uma enorme e inútil vontade de gritar aos 4 cantos do universo, raciocina por um instante e sussurra em desabafo (meio melodramático, diga-se de passagem):

_ “Senhor, se reencarnação existe de verdade, permita que eu venha da próxima vez totalmente isento da necessidade de ter uma mulher ao meu lado. Mesmo que eu venha a ser um bebê de proveta... E mesmo que para isso eu tenha que nascer gay... “ Logo após concluir essa última frase, um trovão ecoou no céu carioca... Será que isso foi um sinal? Ou mera coincidência? Mas o que eu acho mesmo, meus caros amigos, foi que os anjos disseram “AMÉM”...

Eis que se escuta a voz do diretor gritando: "CORTA!"

The End

terça-feira, 23 de março de 2010

PROMESSA É DÍVIDA!

O ano era 1985. Eu, adolescente, aos 16 anos para ser mais exata, cursava o segundo ano do segundo grau (atual ensino médio) no Colégio Pedro II. Um ano após as “Diretas Já!”. O ano do Rock In Rio. Ano da suposta profecia de Nostradamus que dizia algo sobre uma grande catástrofe num festival na América Latina... Mas, com a graça e benevolência de Deus, nada disso aconteceu. A tragédia que estaria prestes a acontecer tomaria lugar no Rio de Janeiro mesmo, porém, numa sacristia...
Eu e minha amiga descíamos os degraus do ônibus 634, que vinha lá de “Deus me Livre”, pegava o retorno onde Judas perdeu as botas, passava por São Cristóvão (onde a gente embarcava após o colégio), fazia um tour pela estação da Leopoldina, percorria as ruas da Tijuca e fazia seu ponto-final ao lado do Tijuca Tênis Clube, na rua onde mais tarde levaria o nome do nosso querido e saudoso Chacrinha. Aí, eu resolvi desabafar:
_”Gisele, tenho que te contar uma coisa...”
_”Ai, meu Deus! Pela sua voz... Fala logo que eu já estou me preparando pro pior!” Disse a amiga fiel.
E eu falei:
_”É que eu fiz uma promessa... Pra passar de ano... E queria que você me jurasse que irá me acompanhar!”
E a amiga, já imaginando a tragédia:
_ “Ai, Meu Deus do Céu! Não vai me dizer que você prometeu subir as escadarias da Penha? Já basta a promessa do ano passado em que você ficou um ano sem comer chocolate!"
E eu respondi, meio sem jeito, com o tom de voz bem mais baixo que de costume, com o olhar perdido e reticente:
_”Claro que não...”
Ai, o final do ano se aproximava... As notas... Nada boas... Prova final: quase em todas! Só faltava o último e derradeiro golpe de misericórdia que seria a recuperação em fevereiro... Porém, o aluno, nesta instituição, só poderia ir para recuperação em apenas 3 matérias. O que matematicamente diminuía a minha probabilidade de conseguir ir para recuperação, sem repetir direto... E eu já estava em duas! Matemática e Biologia. Restava fazer a prova final de História. Prova esta que seria praticamente impossível de passar direto, já que a professora era daquelas que pedia na prova até a cor das cuecas de Dom Pedro... E, sem surpresa alguma, fiquei em recuperação nesta disciplina também. E, somando com as outras duas disciplinas, eu já tinha batido minha cota de provas em recuperação praquele ano. Restava ser aprovada em Química. Seria fácil se eu não precisasse tirar 8! Eu disse “OITO”! Na prova final... Alguém aqui, em sã consciência já tirou “OITO” em Química? Referi-me, na frase anterior, às pessoas normais, OK? E sendo assim, só me restava chorar... E foi o que fiz! Meus amigos, solidários, tiveram uma idéia brilhante. Um amigo, o Albrecht, ainda não tinha consultado com o professor a sua nota na ultima prova de Química. E o cara só tirava notas boas... Plano perfeito! Ele fingiria não saber o resultado do somatório de suas notas e compareceria a prova final para me dar “cola”. E não é que deu certo? Para meu conforto emocional, psicológico e espiritual!.
Dia da prova: Professor entra e conta o número de alunos. Meu coração quase pula pra fora da boca! Ele menciona que teria um aluno a mais em sala de aula... Bem, com toda franqueza, se eu estivesse com diarréia, não teria contido a emoção daquele momento nefasto que me pareceu ser infinito enquanto durou... E o professor checa seu diário e diz:
_”Meu caríssimo aluno, você tirou 10, 9, 10 e 9. Como pôde achar que não teria passado de ano?”
Não sei o que aconteceu, deve ter sido força do trato que eu havia feito com os Santos, mas o professor fechou seu diário, olhou para ele, e não sei porque cargas d´água, olhou para mim também, e falou:
_”Já que veio, faz a prova também!”. Ufa, que alivio!
Prova em andamento e a “cola” rolando solta...
Ao término da prova, o amigo solidário lamentou:
_”Poxa vida! Eu só não sabia responder a número 9...” E eu:
_”Ah, acho que a resposta era “metil-propil-cetona!” E todos: _”Claro, isso mesmo! Que bom que você acertou!”
E eu: _ “É, mas eu fiquei com medo que estivesse errada e... Deixei em branco...” Ai, Jesus, menos um ponto, numa prova de 10 questões, onde eu TINHA que tirar OITO!!!
Dia do resultado: aglomeração de alunos de várias turmas distintas, chorando, rezando, em fila indiana e aguardando o resultado junto ao professor... E sabe quanto tirei? OITO!!! Pra alegria e felicidade geral da nação!
Mas era chegada a hora de revelar a tão secreta e famigerada promessa...
E qual era? Adivinha? Subir as Escadarias da Igreja da Penha... DE JOELHOS!!!
Nisso, o amigo solidário falou que sua tia teria feito a mesma promessa, e mesmo usando joelheiras, levou 3 meses para se recuperar de um grave problema causado pela ignorância e burrice de subir 382 degraus, de joelhos...
Mais uma vez, pra variar, só me restou chorar...
Nisso a amiga dá a solução divina! Iríamos a Igreja pedir ao Padre um auxilio.
Cenário: sacristia da Igreja. E minha amiga começa a narrar toda aquela “saga” para o padre, que a única reação era o levantar das sobrancelhas, indicando espanto enquanto ouvia toda aquela blasfêmia... Até que ele, olha pra mim e resolve falar:
_” Minha filha... Em nenhum trecho da Bíblia, Deus fala que para se alcançar uma graça devemos nos sacrificar e fazer uma promessa. Mas... Se prometeu, (...) TEM QUE CUMPRIR!” Não preciso nem dizer que comecei a chorar... Aí, o padre, com toda sua benevolência e compaixão resolve me dar 3 opções de promessas para que meus joelhos não padecessem já que a mente não foi esperta o suficiente para pensar numa promessa mais adequada. E as opções eram bem simples. 1- Eu poderia subir as escadarias da Penha, normalmente e rezar, em agradecimento a graça alcançada, dentro da igreja. 2- Pegar parte de minha mesada e doar para a paróquia e 3- rezar e ler a Bíblia durante 2 horas. Alguém pode imaginar qual promessa eu escolhi para substituir a antiga? A número 3... Claro e evidente!
O padre, ao ouvir minha escolha, arregalou os olhos de tal maneira que seus globos oculares pareciam que iriam saltar de suas órbitas! Nem preciso mencionar que minha amiga quase cavou um buraco no chão para se esconder, de tamanha vergonha... Ah, gente! Eu não entendia porque minha escolha tinha causado tanto pavor! Afinal de contas, o padre me deu opções... E Eu escolhi. Tudo bem que escolhi a mais fácil de se pagar, mas que jogue a primeira pedra quem nunca pecou antes! E promessa por promessa, paguei a minha! Rezei durante 2 horas! Claro que em doses homeopáticas... Um dia rezei 40 minutos, noutro dia li a Bíblia por meia hora, certa tarde por mais 10 minutinhos... E assim, completei as 2 benditas horas prometidas ao longo de alguns dias! Afinal o padre não havia me dito que eu deveria rezar por duas horas INENTERRUPTAS! E nem que eu deveria cumprir a “promessa” em apenas um único dia...
É, meus caros amigos, seja lá o jeito que foi, pelo menos, cumpri o prometido! Mas, vou confessar uma coisa, depois desse dia prometi a mim mesma que jamais voltaria a prometer o que não poderia cumprir. Vai que os Santos se aborreçam comigo e não me concedam mais nenhuma graça?! Melhor não arriscar... Já devo ter queimado todo meu estoque de perdão divino... Mas, se até eles, que são SANTOS, já pecaram, porque eu não posso pecar também? Errar é humano... E reincidir no erro é... ma-lan-dra-gem... Mas, porém, contudo, entretanto e todavia, se não fosse essa tal “malandragem” eu não teria passado de ano...Nem Moreira da Silva teria sido tão malandro! Com o perdão da palavra, em certos casos, vale a pena ser um pecador. E nem venham me crucificar, porque isso, definitivamente, não foi o fim do mundo, o Apocalipse ou o Juízo Final! Nem mesmo a profecia de Nostradamus foi... Que dirá a minha simples promessinha...

quinta-feira, 18 de março de 2010

O Lobo Mau era Bonzinho?

Creative Commons License
O Lobo Mau Era Bonzinho? by Gláucia Hamond Coutinho is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 3.0 Brasil License.

Pedrinho fora o primogênito daquele casal (o caçula viria cerca de 3 anos depois). E como toda criança tinha seu lado infantilmente engraçado.

Sua mãe, que se considerava uma grande especialista em crianças, praticamente uma psicóloga infantil, fazia de tudo para que Pedrinho vivesse num mundo bem fantasioso por achar isso interessante para a educação e formação da personalidade de uma criança. Mas ela passava dos limites... Pra começar, ao contar qualquer fábula infantil sempre tentava levar a estória para o lado bom, mesmo que esta tivesse um lado ruim. Por exemplo: o caçador não matava animais, o bicho-papão não papava ninguém, o lobo mau era bom, a bruxa malvada era boazinha, o mostro horroroso era bonitinho e assim por diante... Ah, eu já ia me esquecendo da Cegonha, que era a criadora de todo Universo...

Mas Pedrinho tinha a “sorte” de ter uma tia, muito brincalhona, espirituosa e gaiata. Pra sorte de Pedrinho e desespero de sua mãe... Pois esta sempre temia que sua cunhada pudesse “chocar” seu filho com alguma “verdade”, que para ela, não deveria ser contada praquela idade.

A tia de Pedrinho tinha idéias pra tudo. Quando seus pais o deixavam na casa dos avós para poderem sair sozinhos, era ela quem inventava inúmeras brincadeiras para tornar o dia do menino um pouco fora da rotina. Fotografava o garoto com fantasias e maquiagem. Ensinava o sobrinho a mexer no computador com joguinhos de “monstros” e outros bichos, o colocava a par de alguns palavrões para poder se defender de alguma pestinha na escolinha e assim ia... Mas sem a mãe do moleque saber disso tudo, é claro! E como Pedrinho, como qualquer outra criança de sua idade, não era lá muito chegado a um bom banho, sua tia inventou mais uma das suas: ela se vestia de uma personagem, que mais parecia uma entidade carnavalesca, que ela costumava chamar de “O Espírito do Banho”. O figurino era um roupão branco, com pantufas brancas, atoalhadas também, uma touca de banho na cabeça, um escovão de costas numa das mãos e uma bucha vegetal na outra. A “doida” corria atrás do moleque pela casa, gritando que nenhuma criança poderia fugir do “Espírito do Banho”! Ela berrava essas palavras:

_ “Ninguém! Eu disse: NINGUÉM pode escapar do Espírito do Banho!” E ainda completava:

_ “Se alguma criança conseguir fugir do Espírito do Banho, esta será punida com um banho extra!”. Bem, sendo assim, era melhor mesmo tomar um banho do que dois... Mas Pedrinho, no fundo, gostava daquela “misancene” toda. Aliás, quando esse episódio aconteceu, o irmão de Pedrinho já era nascido. O "Dé". E este participava e acompanhava, em silêncio mas com gosto, todo "sofrimento" gostoso que eram aquelas brincadeiras.

Mas, voltando um pouquinho no tempo, a tia de Pedrinho não perdia uma oportunidade de “brincar” com seu sobrinho. Mesmo quando suas brincadeiras eram um pouco “sacanas” com o podre do moleque. Que por sua vez nem percebia a gozação.

Uma certa vez, a tia de Pedrinho disse que não ficaria em casa naquela noite, pois iria sair com uns amigos para uma festa. E Pedrinho, na sua inocência de criança, perguntou:

_"Qual vai ser o tema da festa?". Como se ela frequentasse o mesmo tipo de festas que ele! Tema do Homem-Aranha, tema do Batman, etc. E ele se assustou ao ouvir: _"Ha, ha, ha, ha, ha...!" Essa foi a enorme gargalhada que sua tia deu, mas não deixou o menino no "vácuo". Respondeu logo, mas claro que com toda sua "gaiatice":

_" O TEMA da festa que eu vou será: "SURRA EM CRIANÇAS"... rsss E ele, nem percebendo a brincadeira, foi logo se adiantando:

_"Ah, esse tipo de tema eu não gosto, não"... rsss Coitadinho do moleque!

Numa dessas vezes que Pedrinho ficou na casa de seus avós, sua tia se prontificou a contar-lhe uma estorinha. A mãe do menino frisou bem que deveria ser uma estorinha leve para não traumatizar a criança. Mas, sua tia, esperou a hora certa de contar a estória. Quando os pais do menino finalmente saíram, ela anunciou que contaria uma estória de lobo. Poderia ser “Os 3 Porquinhos” ou “Chapeuzinho Vermelho”. Pedrinho poderia escolher. E enquanto ele pensava em que estorinha apreciaria mais, resolveu fazer uma singela perguntinha a sua tia:

_ “Tia, o Lobo Mau é bonzinho?”.

_ “Não” Ele é mau! E MUITO, diga-se de passagem!”. rsss

Depois dessa resposta, Pedrinho achou melhor ver televisão...

Quando seus pais voltaram, sua mãe foi logo perguntando:

_”Contou a ele alguma estorinha traumatizante?” _”Não”. Disse sua cunhada. E completou:

_”Apenas expliquei a ele que o Lobo Mau era ruim".

_”O QUÊ?! Falou pra ele que o Lobo Mau é mau? NÂO! Você tinha que dizer que o Lobo Mau era bom! Muito bonzinho, por sinal!”.

E este diálogo todo sendo presenciado pelo menino, que olhava vez para a cara de uma, outra vez para a cara de outra. Aquela “apreciação” vista de baixo, por conta da pouca estatura da idade, com a boca aberta e a incerteza estampada no rosto. Foi aí que a tia de Pedrinho não perdeu tempo e deu sua resposta, às gargalhadas, com o tom gaiato e irônico de sempre:

_”Ah, não! Não me venha com essa! Vamos “abrir o jogo” aqui pra criança: se o LOBO MAU fosse bonzinho, o nome dele seria LOBO BOM, não é verdade? E não, LOBO MAU! Oras, bolas!”.

E assim Pedrinho, igualmente como seu irmão, cresceu sem maiores traumas, mas com a “verdade na mente” e o “realismo cravado na alma”, como sua tia dizia e julgava ser o melhor método para se educar uma criança. Afinal, a verdade tinha que ser dita por ALGUÉM! E melhor que tenha sido por ela, que era da família, sangue do mesmo sangue, do que por um estranho qualquer na rua...

_"Tô certa ou tô errada?" (palavras da tia)

E a "tia"... era eu... rsss

domingo, 7 de março de 2010

A Verdadeira História de Clint Eastwood


Creative Commons License
A Verdadeira História de Clint Eastwood. by Gláucia Hamond Coutinho is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 3.0 Brasil License.

Cada ator ou atriz tem um nome artístico, certo? Certo! Então, suponhamos que este nome não seja seu nome real de batismo, você já parou pra pensar qual seria sua verdadeira "graça"? Ah, eu já! E posso te garantir que minha imaginação não tem limites!

Há algum tempo atrás, ao assistir a chamada de um filme americano que passaria na tv, eu escutei o nome "Clint Eastwood". Aquelas palavras soaram nos meus ouvidos como sinos de igreja que não param de badalar numa manhã de Domingo. Aí, eu parei e pensei: será que este é seu verdadeiro nome? Ou é apenas um nome artístico? Porque ele teria inventado este nome? E o porquê de "Eastwood"? Que propósito teria este nome? Será que teria sua origem na infância do ator? Aí, comecei a viajar em cima dessa tese que eu acabava de criar. Foi quando uma engraçada estória me passou pela cabeça. E eu já me imaginava narrando todo meu discurso para quem não soubesse a origem do nome artístico do ator Clint Eastwood. E eu comecei assim:

Bem, na verdade Clint Eastwood era brasileiro. É isso mesmo! Brasileiríssimo! E Carioca! DA GEMA! E como todo carioca de respeito, era meio malandrinho, como a maioria dos seus coleguinhas. Sua mãe, vivia as voltas pelo bairro onde morava (Meier, no Rio de Janeiro) gritando seu nome, que era um nome americano - CLINT - já que a coroa era vidrada em tudo que vinha de fora. Mas o nosso amiguinho Clint não era nada chegado a um bom livro, fato que deixava sua mãe cada dia mais cansada por repetir tantas vezes a mesma frase: "Clint, estude!"... As vezes ela berrava: "CLINT, ESTUDE!". Ela temia que seu filho Clint não tivesse um futuro promissor caso não estudasse.

Tempos depois, o menino ficou órfão, foi adotado por um casal norte-americano e foi morar nos States! Daí, eu nem preciso contar todo o "blá, blá, blá" que se sucedeu a este fato. Mas quem poderia imaginar a origem de "EASTWOOD"? Ah, fácil! Ele apenas "americanizou" a tão falada e gritada palavra que sua mãe sempre repetia: "ESTUDE". Provavelmente uma homenagem a mãezinha que partiu tão cedo e com tanto medo do futuro do filho.

É, minha gente, os cariocas e o Clint que me perdoem, mas não contive a vontade de registrar esse devaneio. Mas sabe que teve gente que quase acreditou nessa minha estorinha? E você? Acreditou? Claro que não, né? Mas aposto que vai correr pro Google e pesquisar o nome do pobre ator, ou melhor, rico. Pobre sou eu que não ganhei nada por banalizar seu sobrenome e ainda posso ficar na pior se ele resolver me processar. Mas, graças a Deus que ele não é brasileiro! Porque assim sendo, pelo menos não vai conseguir ler este texto. AMÉM!

quarta-feira, 3 de março de 2010

Eu disse: "Espírito Santo e os 5 Magníficos Canalhas"


Estava eu, num belo dia, brincando de "mímica" com alguns colegas na época da minha adolescência. Tudo se passou num prédio que morei parte da minha infância e adolescência no Grajaú, o "Segadão", para os íntimos. rsrs
Eu adorava a brincadeira, ainda mais porque eu, como atriz (naquela época ser atriz ainda era um sonho secreto) sempre queria "atuar" de alguma maneira. Mas, como a melhor parte da brincadeira é ganhar (esse papo de que "o importante é participar", sempre achei uma furada) resolvi dar uma ajudinha pra sorte e corri em casa para pegar o jornal e ver os nomes dos filmes que passariam durante aquela semana. Com tantas idéias de títulos de filmes, o meu grupo, com certeza, teria mais chances de ganhar. O mais curioso foi que achei um título, que além de grande, era extremamente difícil de se fazer alguma mímica com aquelas palavras, que juntas não pareciam fazer sentido algum. O nome do filme que eu acabei escolhendo, para nosso grupo dar ao outro para fazer a mímica, foi nada mais, nada menos que: "Espírito Santo e os 5 Magníficos Canalhas"! E não é que o filme existe mesmo! Passou na "Sessão da Tarde" e tudo! Se não fosse o jornal eu nem teria como provar isso naquela época, já que internet era coisa de filme de ficção científica. Mas o jornal estava ali comigo, como prova. Engraçado foi ver o pobre coitado do grupo adversário tentando, com muito custo e dificuldade, fazer a mímica do nome deste filme! O sujeito começou fazendo o sinal da cruz. Mas ninguém dizia "Espírito Santo"! E olha que ele, ao fazer o sinal da cruz, firmava continuamente os dedos nos ombros, exatamente onde o "Espírito Santo" é pronunciado. Mas o mais engraçado mesmo foi quando ele resolveu pular algumas palavras e ir logo para "canalhas". Ele apontava para um rapaz que também brincava conosco. Seu nome era Ricardo. E como este Ricardo era uma figura engraçada e extrovertida todos começaram a mandar alguns adjetivos, achando poder ser a palavra certa. Começaram com chato, burro, metido, feio, viado, galinha, escroto... rsss Esses adjetivos que os jovens adoram se chamar entre si, principalmente quando são amigos! É verdade! Mas "canalha" não era pronunciado por ninguém! Pra tristeza e desespero do sujeito que tentava a todo custo correr contra o tempo. E o tempo passando... Até que se esgotou. O outro grupo mais do que imediatamente pediu para saber qual era o "bendito" nome do filme. E óbvio, não acreditaram. Mas meu jornalzinho, como falei anteriormente, estava ali, como prova e evidencia! O episódio ficou ainda mais engraçado quando o Ricardo, depois de muitas risadas de todos, virou para o sujeito que fez a mímica e disse: "Pô, cara! Eu sou canalha?". Não, coitado! Não era, não! Mas, pensando bem, acho que "canalha" mesmo fui eu, que usei este título tão estranho e tão diferente para ganhar uma simples brincadeira. Mas jogo é jogo, cada um usa as armas que tem e cá pra nós, ganhar é bom pra cacete! rsss