(imagem da internet)
Ensaio Sobre a Loucura por Azulejos by Gláucia Hamond Coutinho is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Não a obras derivadas 3.0 Unported License.
Eu tenho mania de azulejos... É um desvario meu. Toda vez que eu entro num lugar e vejo azulejos na parede, eu começo a viajar... Eu fico imaginando, baseado nos azulejos que vejo, de que data é a construção daquele prédio ou casa. Eu perco horas pensando nisso. Às vezes, eu nem consigo me concentrar no que está acontecendo a minha volta. Eu só consigo pensar nos azulejos... E eu fico ainda mais intrigada quando vejo que os azulejos fazem par uns com os outros. Ou seja, você precisa de mais de um, no caso dois ou quatro azulejos, para se ter o desenho desejado. Complicado isso... Pelo menos para mim. Já pensou se um deles quebra e você não encontra a outra parte do azulejo para compor a gravura? Por esse motivo, existem os cemitérios de azulejos. Lugar intrigante... Eu já fui num desses. Um verdadeiro mistério psicodélico...
Outro dia, logo na saída de uma peça, que assisti em Copacabana, eu fui jantar num restaurante. E sabe o que tinha lá? Azulejos... Pareceram-me datar dos anos 70, mas fiquei na dúvida se o recinto realmente era dos anos 70 ou se, após uma reforma, nos anos 70, a decoração do local mudou. Mas eu fiquei muito confusa porque tinham duas paredes de azulejos diferentes. E os azulejos, apesar de terem tons semelhantes, me pareciam datar de épocas distintas... Isso deu um nó na minha cabeça! Quase fiz uma pesquisa no Google pra saber a data da inauguração do restaurante. Mas eu deveria ter perguntado ao garçom se o restaurante já sofreu alguma reforma anteriormente... Eu deveria mesmo era ter tirado umas fotos dos azulejos! Isso me pouparia tempo e esclareceria muita coisa... Ou então, eu poderia ir a um cemitério de azulejos e perguntar a data deles. Simples assim!
Além de azulejos, eu também fico meio louca com pisos... Principalmente se forem de azulejo... Ou outro material parecido. Cerâmica, quem sabe?
Sabe, pra falar a verdade, eu nem entendo dessas coisas, azulejos, ladrilhos, pisos, cerâmica... Mas eu tento entender. Eu me esforço pra entender! E sabe porquê? Porque eles contam uma história. Atrás de uma parede de azulejos se escondem várias histórias. Anos e mais anos de muita história. Quem sabe décadas? ... Séculos...
Estou começando a achar que azulejos me deixam deprimida... Eu chego a chorar olhando para uma parede coberta por azulejos... Por que eu imagino... Imagino o que aconteceu diante daquelas paredes. Paredes cobertas por azulejos...
Já uma parede pintada, não me diz nada. Eu não perco horas do meu dia pensando em quantas camadas de tinta aquela parede já viu. Eu não dou a mínima para paredes pintadas! A única vez que eu parei pra pensar em paredes cobertas por tintas, foi no dia em que eu vi uma parede de azulejos toda pintada. Tacaram tinta por cima dos azulejos. Uma crueldade! Sinceramente, não entendi... Acho que queriam, de alguma forma, apagar o que o tempo registrou. Coisa de gente triste... Eu acho...
Uma vez, eu ouvi uma coisa muito esquisita. Disseram-me que o vidro não é sólido. Ele se encontra no estado líquido. Olha só que loucura! Um diferente tipo de líquido, por assim dizer... Por causa das catedrais antiqüíssimas da Europa. Se você notar os vitrais delas, verá que a tinta deles escorre para a tinta do vitral de baixo, nas gravuras. Muito estranho... É como se eles derretessem a uma velocidade praticamente imperceptível ao olho humano! Ou será que é apenas a tinta que escorre? Ah, sei lá... Será que o mesmo pode acontecer com os azulejos? Acho que as pessoas não dão aos azulejos tempo suficiente para provar se isto também pode acontecer com eles. As pessoas se cansam rapidamente dos azulejos. Já percebeu isso? Ninguém dá ao azulejo uma chance... Uma única chance de provar o que ele realmente é. Seu verdadeiro valor. Suas origens. Suas experiências. Suas qualidades. Sua durabilidade.
E quer saber? Eu tenho me sentido “igualzinha” a um azulejo. Sem chances...
Não dá pra imortalizar um azulejo! Eu já percebi isso! A não ser aqueles portugueses. Esses sim têm todo respeito que merecem.
Não sei nem porque estou falando em azulejos... Eu não entendo nada deles...
Acho que eu vou tentar mudar! Não vou mais pensar em azulejos. Vou me concentrar agora em vitrais de catedrais! Vou focar nisso!
Vitrais sim são, sem sombra de dúvidas, imortalizados na história! As pessoas respeitam os vitrais! E é exatamente assim que eu gostaria de ser... Imortalizada na história... Os supostamente imortais têm todo o respeito que merecem. E isto é tudo que eu desejo. Isto é tudo que eu mereço: RESPEITO!