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domingo, 20 de janeiro de 2019

Quando o Futuro Está no Passado

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O trabalho Quando o Futuro Está no Passado de Gláucia Hamond Coutinho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.

Quem poderia imaginar que a vida daquela mulher mudaria da noite para o dia? Literalmente da noite para o dia...
Todo mundo na vida já passou por situação semelhante. Uma simples decisão, que pode mudar sua vida para sempre... As vezes, nem tão simples assim. Mas imediata!
E foi exatamente isso que aconteceu com Angelica Velmond!
Vamos apresentar nossa protagonista! Angelica Velmond, 50 anos, atriz e desempregada... Angelica é uma daquelas pessoas que sempre lutou bastante para conseguir um espaço ao sol. Na maioria das vezes, o que realmente conseguiu foi um modesto espaço na sombra, diga-se de passagem... Mas nunca parou de se dedicar, buscar e batalhar pelos seus sonhos. Afinal, contrariando às expectativas, ela não era de se entregar ao fracasso.
Numa certa tarde, de uma certa sexta-feira, Angelica, como sempre, foi à um teste de elenco. O teste aconteceria num estúdio na zona sul do Rio de Janeiro. E lá estava Angelica, firme e forte, cheia de esperanças, contando que desta vez, ou que somente desta vez, a sorte finalmente estivesse do seu lado. Angelica decorou seu texto, se produziu, se concentrou e lá estava ela de frente à claquete, fazendo sua cena. Para ela, tinha tudo corrido bem. Mas vai saber que tipo de perfil realmente era o buscado para a produção... Ou talvez Angelica não era tão talentosa como achava ser...
Acabado o teste, Angelica se encaminha para um dos banheiros do estúdio. Sente uma tontura, já que não tinha se alimentado naquele dia justamente para parecer mais magra para as câmeras, e por isso, desmaia caindo no chão. Por ironia do destino, ela escolheu o único banheiro que ninguém mais entraria naquela noite...
Quando recuperou seus sentidos, um tanto o quanto nauseada, percebeu tudo escuro. À julgar pela escuridão da noite, algumas horas já deveriam ter passado... Tateou sua bolsa e alcançou seu celular para iluminar o local. Com a ajuda da iluminação do mesmo, achou o interruptor e acendeu as luzes. Andou por todo estúdio e gelou só de imaginar que poderia ter sido esquecida naquele lugar! Ela desmaiou, ninguém percebeu, e para piorar a situação foi trancada dentro de um estúdio que só reabriria na segunda-feira seguinte... “Isso daira um bom roteiro!” murmurou para si, numa tentativa infantil de fazer piada com a tragédia que protagonizava naquele momento.
Mas para sua surpresa, ela não estava sozinha. Um barulho de latinha de refrigerante sendo aberta a fez perceber a presença de mais alguém. Eis que uma figura sinistra, aparentando ter saído de um filme de ficção, surge em sua frente, com um jaleco branco, uma latinha de soda na mão e um óculos Pince Nez preso ao nariz. “Quem ainda usa um óculos desses nos dias de hoje?” Pensou ela, num misto de surpresa, medo e estranheza.
O que você está fazendo aqui? Quem é você? O estúdio era para estar vazio numa hora dessas!” Perguntou e afirmou o sinistro “Professor Pardal”. Angelica arregalou os olhos e disse: “Eu ía te fazer estas mesmas perguntas! Eu vim participar de um teste, sou atriz, sabe? Angelica Velmond! Mas desmaiei dentro do banheiro, ninguém percebeu e cá estou olhando para uma pessoa que nem sei ao certo quem é...”
Meu nome é Jorge. Sou amigo do dono do estúdio. Vim pro Rio participar de uma conferência e o Carlos, dono daqui, me deixou ficar numa das salas, enquanto passo uns dias na cidade Maravilhosa”. Sorriu o esquisito “Einstein”.
Angelica pega o celular para tentar contactar um taxi. Mas a bateria tinha acabado naquele momento e ela não tinha um carregador à mão. Jorge disse que poderia emprestar o dele, mas que teriam que esperar Manuel, que traria alguns equipamentos e o carregador era um deles. Após as devidas apresentações, passaram a conversar para matar o tempo. Angelica achou interessante já que ele, sendo amigo do dono do estúdio, quem sabe haveria uma remota possibilidade de uma indicação para conseguir o papel que tinha feito teste naquele final de tarde...
Ela contou toda sua trajetória artística, sua vida difícil, seus dissabores, seus receios, suas tentativas frustradas e sua má sorte no meio artístico. Jorge, que até aquele momento não havia mencionado sua profissão, escutava atentamente toda sua trágica sina. Eis que Angelica, com um ar de cansaço e com os olhos um pouco mareados, desabafa quase sussurrando: “Eu estou cansada, sabe? Muito cansada... Cansada de nadar, nadar e morrer na praia... Não sei se ainda existe alguma outra saída pra mim... Quem me dera voltar no tempo e ser uma atriz numa época com menos concorrência..." Jorge interrompe bastante ansioso por mais detalhes: "Conte-me mais! Conte-me mais!" Angelica continua: "Ah, são devaneios apenas... É o que me restou. Eu não tenho mais sonhos. Eu tenho devaneios...” Jorge, levanta sua sobrancelha direita, escutando aquilo tudo com bastante atenção e fala: “Então me conta! Como você acha que isso poderia acontecer? Veja bem, vamos só imaginar uma situação aqui. Digamos que você pudesse, quem sabe, assim por exemplo, hipoteticamente falando, ok?... SE... Eu disse 'SE'... por um acaso, existisse uma remota possibilidade de se usar uma... digamos assim... máquina... do tempo, mesmo que experimental, caso ela existisse, óbvio, você toparia voltar no tempo e buscar sua fama no passado? E se por ventura a máquina só pudesse ser usada uma única vez? Por exemplo, SE caso você aceitasse o desafio, você não teria volta! Você teria essa coragem? Ficar no passado, sozinha, por sua conta própria, mas com a experiência vantajosa que você julga ter em relação às atrizes de outrora?”
Ah, meu amigo, eu toparia sem pestanejar!" Gritou Angelica num impulso levantando-se da cadeira em que estava sentada. E continua sua narrativa como se falasse para si: "Eu não tenho filhos, nem tenho marido!  Não tenho mais pais. E nem irmãos... Eu só tenho dívidas, meu caro... Dívidas e contas à pagar! Muitas contas... Que por sinal vão vencer esta semana...” 
Interessante... Muito interessante!” Disse Jorge, retirando o Pince Nez do nariz e limpando-o em seu jaleco.
Angelica... É esse seu nome, né?” “Sim! Angelica Velmond!” Respondeu a atriz.
Angelica, a gente se conheceu há pouco, não sabemos nada pra valer um do outro, não é verdade? Aliás você sabe pouquíssimo a meu respeito. Mas eu vou te dizer.  Baseado em tudo que você me contou, acho que merece minha confiança... Bem, eu, além de me chamar Jorge e ser amigo do Carlos, o dono disso daqui, eu sou também um cientista. Na verdade estou aqui no Rio para um experimento. Um experimento secreto. E o único civil, por assim dizer, que sabe deste experimento é meu amigo Carlos (agora você sabe também), pois numa dessas salas está todo meu equipamento! Anos e anos de pesquisas salvos em computador! E um dos maiores feitos da humanidade numa máquina construída por mim! Você quer ver? ”.
Ao ouvir isso, Angelica gargalhava sem parar como se estivesse assistindo à uma comédia das boas!
Tudo bem, Angelica... VELMOND". Jorge frisa o sobrenome com deboche e raiva. "Pode rir à vontade! Eu vou entrar na minha sala pois tenho muito trabalho pela frente. À propósito, o rapaz que vai trazer o carregador só volta amanhã. Durma bem aí nessas cadeiras. Boa noite!”
Não! Espera! Desculpa! Eu sou assim mesmo! Tenho o riso frouxo!” Disse Angelica, meio sem graça.
Jorge dá um “ok” com a cabeça, a pega pelo braço e fala baixinho: “Vem comigo!” E ela segue, sem contestar.
Subiram 2 lances de escada até que chegaram em frente à uma porta, que mais se parecia com uma porta de elevador. Jorge pegou uma chave e abriu o cômodo. Na mesma hora Angelica pôde sentir o frio, quase glacial, como ela mesma pensou, que vinha de dentro daquela sala. E muitos, mas muitos equipamentos e computadores ligados estavam ali. “UAU! Quase uma NASA!” Pensou Angelica com seus botões. Mas guardou o pensamento para si com medo de fazer uma piadinha sem sucesso e aborrecer o figurão.
Jorge mostrou todos os equipamentos e explicava como um palestrante, cada peça, cada botão.
Eis que ele olha para o relógio, levanta as sobrancelhas e diz: “Angelica, são 2 horas da madrugada. O rapaz, o Manuel, chegará as 6. Sendo assim, temos 4 horas só nós 2 sozinhos aqui. Você topa?” Mencionando esta última frase levantando as sobrancelhas continuamente, numa maneira estranhamente engraçada.
Angelica, sentindo-se assediada e com um pouco de medo, tira um guarda chuva da bolsa, e apontando o mesmo como uma espada para Jorge, grita: “Tá maluco? Eu sou atriz, seu babaca! Não sou puta! Tá pensando que tudo quanto é atriz é puta, é? Tenta alguma coisa que eu saio correndo pela rua gritando até a polícia aparecer! Vem! Vem que eu te mato!”
Jorge, levanta de novo a sobrancelha direita e responde pausadamente, balançando a cabeça: “Não é nada disso... É que eu ainda não te expliquei direito. Falha minha. Eu tenho aqui uma máquina. Uma máquina experimental, claro. É muito importante que isto fique bem claro! Mas é uma máquina única. Diferente. E espero que você não deboche do que eu vou falar, mas é uma máquina... do tempo. E eu não estou brincando! A única coisa que eu preciso é de uma cobaia. Digo, um voluntário. Ou uma voluntária... No caso... Você topa? Como você mesma disse, esta, definitivamente, não é a sua época! Voltando ao passado, quem sabe, você terá mais oportunidades na área artística! E a única coisa que você deixaria para traz seriam suas dívidas... O que já seria um bônus e tanto! É só você me contar qual o nome que adotaria no passado, claro, pois não poderá usar o seu atual... Isso é obvio. Sabe como é... Segurança... Conflitos... Essas coisas... Até por que você vai desaparecer do presente... E sabendo seu o nome artístico que você adotará em sua viagem, assim eu saberei se o experimento foi um sucesso. Ou não... Quem sabe se o seu futuro não estaria no passado? Hein? Já pensou? Então, o que você me diz? VOCÊ TOPA?”
Angelica fica pensativa por alguns minutos. E Jorge também. Ela parece pensar se aquilo tudo seria verdade ou apenas um papo furado. E ele começa a achar que fez uma tremenda besteira confidenciando aquele super projeto top secret...
Cristina Vermond! Isso! Vou usar este nome!” Exclamou Angelica, decidida e esperançosa!
Bem, Angelica, caso este projeto realmente aconteça com sucesso e caso você realmente consiga obter seu reconhecimento profissional, é bem provável que, se a gente consultar a internet agora, neste exato momento, encontraremos algum registro de alguma atriz chamada Cristina Vermond... Pois se você for mesmo para o passado, o passado já aconteceu! Isso é fato! É um paradoxo do tempo!”
Após essas palavras, os olhos de Angelica brilharam por conta das lágrimas que começaram a cair.
Ai, não sei... Estou com um pouco de medo de pesquisar e não achar nada... E se eu morrer na viagem?” Disse a atriz reticente. “Bem, se você morrer na viagem, não encontraremos registro algum... Óbvio! Mas também não podemos descartar a possibilidade de você não ter conseguido provar seu talento no passado... Uma desconhecida, sabe-se lá vinda de onde, tentando ser atriz, sem poder comprovar alguma experiência que seja... Ou você pode ter mudado de ideia, se casado no passado, mudado de profissão... sei lá! Mas... pode ser válido...” Retrucou o cientista.
Angelica, repentinamente, aceita o desafio. Mas desiste de checar a internet à procura de provas da suposta existência de alguma Cristina Vermond no passado. Ela aceita entrar no jogo cegamente! “Quem está na chuva é para se molhar!” Falou com a voz trêmula.
Jorge sorri e fala cheio de emoção e ansiedade: “Você acaba de fazer parte de uma das maiores conquistas da humanidade, minha cara! Pena não termos champanhe! Vamos! Vou te preparar!”
Angelica responde a um enorme questionário sobre sua saúde e Jorge tira seu sangue para exames. Tudo certo! Tudo conforme os protocolos exigidos.
Jorge abre a cápsula do transporte temporal. Angelica entra. Ele aperta vários botões do computador, tecla muitas palavras, e um barulho semelhante à um gerador começa a ecoar no recinto. Um cheiro estranho toma conta daquela sala gelada. Um cheiro parecido com éter, talvez de laboratório ou de hospital. Uma luz clara e intensa surge de dentro da cápsula. De repente, o barulho cede por completo. E uma fumaça branca e gelada sai de dentro daquela parafernália temporal. Angelica não mais estava lá...
Jorge fica parado por alguns instantes e seu coração dispara. “Será que finalmente consegui?” Essa era a frase que se repetia em looping dentro de sua cabeça. Ele corre para o computador, hesita um pouco, pára, pensa, respira fundo e toma coragem! E como um louco começa a teclar freneticamente. Digita “Cristina Vermond”! Mas não olha para o monitor. Conta até 10. E finalmente toma coragem e encara os resultados de sua busca. Gradativamente seus olhos vão se enchendo de água! Ele retira seu Pince Nez do nariz, leva a mão ao peito, congela. E uma lágrima escorre pelo seu rosto. Olhando hipnotizado para a tela do computador, começa a soluçar como uma criança que chora pelo doce que caiu no chão. Seu choro começa a se misturar com uma risada! Eis que a primeira referência que surge na pesquisa do Google era a seguinte:
Cristina Vermond – Wikipédia ... Grande e famosa atriz dos anos 50, que começou sua trajetória tardiamente no showbiz. Vencedora da estatueta do Oscar de melhor atriz coadjuvante em sua brilhante e avançada atuação para os padrões da época, no filme 'A Máquina do Tempo' (The Time Machine), em 1960...”

FIM


sexta-feira, 7 de setembro de 2018

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Novo Book da atriz Gláucia Hamond

Meu Book novo feito na agência Attos Casting pelas lentes do maravilhoso Zuh Ribeiro!