O trabalho O Manto da Guerra de Gláucia Hamond Coutinho foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Texto criado por mim para uma maravilhosa performance na Martins Penna, sob a orientação de Anselmo Vasconcellos. "Restaurante - mulheres das contas (contadoras de histórias"). Uma belíssima restauração com o público!
Aquele homem havia sido um caçador, um grande guerreiro! E
estava pronto para ir à guerra. À sua mulher cabia a simples função de
confeccionar seu manto de glória. Um manto protetor. Mas como a mulher
detestava a guerra, tudo que ela havia costurado, amarrado, trançado e bordado
durante o dia, ela desmanchava durante a noite. Assim, o manto nunca ficava
pronto e seu marido nunca partia para a guerra. Cada dia ela dava uma desculpa.
Um dia foi o gato que arrancou as penas do manto. Outro dia foi o vinho que derramou
por cima da pele deixando-a manchada, e assim por diante... E nisso ela ia
ganhando tempo... Mas tanto tempo se passou que o marido se aborreceu e
resolveu partir mesmo sem seu manto! E assim ele foi! A mulher desesperou-se! Mas
logo após aquela amarga partida, ela tomou conhecimento no vilarejo vizinho que
a tal guerra já havia acabado há muito tempo! Pois muito tempo levou a enganar
sobre o manto. Ao saber disso, tamanha era sua alegria, que não quis nem
esperar pelo retorno de seu marido! Correu embriagada de felicidade para
acalentar seu amado! Pegou um atalho pensando justamente em surpreendê-lo de
frente. E com ela levou o manto, mesmo inacabado. Seu marido, ao
vê-la de longe e sem saber do término da guerra, corre bravamente pensando marchar
de encontro ao inimigo! Sedento de sangue! E pensava: “não é porque ele tem um
manto que eu não posso derrotá-lo! Isso é pura superstição” E num ato de fúria,
voa com sua espada para cima daquela figura, que parece ser seu oponente, e com
um golpe certeiro e fatal arranca a vida daquele corpo! Mas o corpo era de sua
mulher... Sua raiva foi mais rápida que sua visão. Pouco a pouco o manto vai
tornando-se escarlate! Quando se dá conta da tragédia, cai de joelhos e entre
lágrimas, implora aos deuses um castigo pesado para se penitenciar! Mas não há
sinal algum de resposta... Apenas um súbito peso nos ombros. O enorme peso de um
manto invisível de culpa...
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