Sou uma Atriz E.T. by Gláucia Hamond Coutinho is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 3.0 Brasil License.
No início dos anos 80, eu, que não fazia a mínima idéia do que fosse um assalto, já que em meu planeta isso não existe, deixava minha nave estacionada no Rio de Janeiro, sem trava, nem alarme. Acabaram roubando minha nave, modelo Plunct Plact Zum, para produção de um programa infantil. Fiquei com tanta raiva que eu furei o Balão Mágico. Precisava ver o balão voando sem rumo, desnorteado, por conta do meu furo. Deve ser por isso que eles tiveram inspiração para compor: “pegar carona nessa cauda de cometa, ver a via Láctea, estrada tão bonita, brincar de esconde-esconde numa nebulosa, voltar pra casa nesse lindo balão azul...”
Bem, vou desabafar um pouquinho com vocês sobre a minha carreira artística.
Esse meu corpo é apenas minha capa, minha fantasia. Ou seja, a forma humanóide que eu adquiri já que vocês, terráqueos, pudessem visualizar, já que ainda não estão totalmente preparados para apreciar tamanha beleza. Porque meu corpo extra-terrestre é simplesmente MARAVILHOSO!
Comecei minha carreira artística como dublê de corpo, já que meu corpo extra-terrestre é simplesmente lindo! Tanto é, que fui dublê de corpo do E.T., no filme E.T. Mas não ganhei cachê extra por aparecer nua.
Pouco tempo depois, Steven Spielberg quis se redimir e me contratou para fazer Poltergeist. Pensei que a cena na piscina, como tava no script que ele me enviou, seria de biquíni. Mas não, foi de terno de madeira mesmo, ou melhor, saindo de dentro dele... E nesta cena em questão, eu fazia a caveira de colar de pérolas, saindo do caixão na piscina cheia de barro. Acabou aparecendo parte de meu seio cadavérico e mais uma vez, cadê o cachê extra????
Fiquei tão p___ da vida com o Spielberg, mas tão p____ da vida com o Spilberg, que o xinguei de Judeu mão-de-vaca. Conclusão: ele me processou e até hoje estou pagando uma multa astronômica.
Por ironia do destino, com a MINHA grana, Spielberg produziu A Lista de Schindler...
Para sanar minha dívida com Spielberg, comecei a dar aulas de interpretação a alguns ETs. Graças aos meus esforços, ALF - o ETeimoso, ganhou um programa próprio, as aulas encheram de atores ETs que fizeram Star Wars. E o Alien, então? Com a minha ajuda o cara bombou nas bilheterias!
E eu???!!! NADA!!! Neca de pitibiriba!
Mais tarde, fui contratada como elenco de apoio em Arquivo X. Quando finalmente iriam me contratar como atriz e.t. principal, meu visto cósmico expirou e tive que regressar ao meu planeta natal.
Nisso, chegando em meu planeta natal, eis que eu me deparo com a filmagem de O Pequeno Príncipe. Pois bem, sabendo que eu não seria contratada para elenco do filme, tentei me disfarçar de “mini-cratera” e mesmo assim consegui aparecer no filme! E mais uma vez, não ganhei cachê! Nem cachê de figurante! Nem ao menos colocaram meu nome nos créditos!
Até em meu próprio planeta não reconhecem meu talento artístico...
Fiquei muito triste e quis voltar pra Terra.
Quando consegui organizar minha situação na imigração inter-planetária, eu voltei ao Rio de Janeiro e em meados dos anos 90 conheci um terráqueo chamado Gabriel - o Pensador. Batemos um papo longo e ele disse ter se inspirado em mim pra compor uma música, algo relacionado a cor de cabelo e inteligência feminina, acho eu... Anos mais tarde, descobri que aqui na Terra, melhor dizendo, no Brasil, "loira" é sinônimo de "burra"... Meu Deus, sou discriminada por não ser uma terráquea e quando finalmente assumo minha forma humanóide, sou burra!
E eu já tava meio pau com isso tudo, querendo ir pro espaço mesmo. Na verdade eu queria mesmo era mandar todo mundo pro espaço!
Mas, acabei ficando pelo Rio de Janeiro mesmo, já que minha nave foi avariada por conta de uma bala perdida...
Nem ao menos consegui uma carona na cauda do Cometa Halley, pois este passou muito longe... Mas me disseram que ele passou!!!
Como se não bastasse tamanha falta de sorte, caçaram meu brevê espacial... Aí,eu pensei, é, vou ter que ficar por aqui MESMO...
Percebi que estou mesmo numa maré de má sorte, já que o F.D.P. do meu conterrâneo (vulgarmente conhecido como o E.T. de Varginha) acabou se tornando famoso, reconhecido, andou comendo tudo que é mineirinha por aquelas bandas, fez participações em programas humorísticos e eu ainda estou no anonimato, com minha fama a anos-luz de se tornar uma possível realidade!!! E ele, que era meu amigo, bem que podia ter me dado uma força, podia ter me telefonado e encaminhado meu curriculum para as televisões. Pô, gente! Eu fiz CAL, caramba! CAL! (Casa das Artes Lunares).
E de pensar que eu vim parar aqui para salvar aquele ingrato...
Bom, resumindo a tragédia, pra piorar a minha situação emocional, me contaram que Papai Noel NÃO existe...
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