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sábado, 17 de abril de 2010

O Destemido Ladrilheiro de Santa Teresa



Sábado de Carnaval. 16 horas em ponto. Concentração do Bloco Carnavalesco "Heróis de Santa Teresa", em seu primeiro e estreante desfile, no Largo dos Guimarães, em Santa Teresa, claro! Movimentação folclórica ao longo das ladeiras (algumas ainda "paralelepipedadas") do bairro.
E Jorginho passava a cola no ultimo pedaço de azulejo que compunha sua indumentária carnavalesca. Apesar de um pouco grotesca, uma entidade pândega acabava de ser criada... Era o criador dando forma e viva a sua criatura!
O objetivo do bloco era reunir foliões devidamente trajados de heróis. Poderia ser um herói conhecido ou outro qualquer, fruto da pura imaginação pessoal de cada um.
E como Jorginho era duro pra valer; "pobre, pobre de marré deci", resolveu improvisar em seu figurino. Juntou todos os azulejos que encontrou em casa, já que seu pai tinha sido empregado num cemitério de azulejos, ali pertinho mesmo. Pegou "emprestado", com um primo, um capacete de pedreiro. Com a tampa de alumínio de um latão de lixo, deu-se a criação de um escudo. E com uma espada de plástico do He-Man, que ele havia encontrado na garagem de sua casa, estava pronta a fantasia! Todos os objetos foram devidamente revestidos com pedacinhos quebrados de azulejos. O capacete, por ter sido todo colado com pedaços dourados, ele o chamou de "O Elmo D´Ouro". O escudo improvisado, também todo revestido com pedaços de ladrilhos, foi denominado "O Escudo Sagrado", já que num dos pedaços de azulejo colados, no centro, para ser mais exata, poderia se ver parte de uma figura que se parecia com Jesus Cristo. E a espada, que tinha sido grosseiramente coberta por pedaços rosas (ele não tinha mais opção, seu estoque de azulejos estava se acabando), ele a nomeou de "A Espada Justiceira". E qual seria o problema de algumas peças cor-de-rosa na espada, não é verdade? Isso não comprometeria a masculinidade de ninguém! Até porque, a Justiça, além de cega, é uma mulher, oras bolas... Que criatura mais criativa, não?
Ele poderia ser pobre de grana, mas era rico de inteligência e puro de coração. Além de ser um moreno bem interessante, diga-se de passagem.
E Jorginho estava finalmente pronto pra cair na folia! Que figura! E, tenho que confessar, era uma das cenas mais hilariantes de se apreciar mesmo numa tarde tão colorida quanto aquela de carnaval! Ele se transformara praticamente num mosaico vivo! Um enorme e irreverente mosaico humano!
Mas, como Carnaval é tudo bagunça mesmo, deixa rolar. Essas foram suas palavras.
E lá se foi Jorginho, andando pelas ruas de Santa Teresa. Subindo e descendo ladeiras à procura de seus amigos. E, inevitavelmente, acabava ouvindo algumas piadinhas ao longo de seu percurso até o Largo dos Guimarães. "Fala, Ladrilhão!" ... "Veio fantasiado de banheiro, Jorginho?" ... Dentre muitas outras chacotas que no momento, por não saber a exata faixa etária de meus leitores, achei por bem não comentar...
Mas jorginho nem ligava. Ele queria mesmo era encher a cara de cerveja e ver se, de quebra, faturava alguma gatinha. Quem sabe uma "Mulher Maravilha", uma "Bat-Girl" ou qualquer outra vestindo saia, MAS, desde que fosse sem pelos nas pernas e sem gogó no pescoço... Por favor!
E ele finalmente se junta a seus colegas. Todos completamente bêbados! E olha que o bloco ainda estava na concentração! Cada um com sua fantasia de super-herói. Marcelo estava de Superman. Carlinhos usava uma máscara de Homem-Aranha. Denis, por ser loiro, estava de He-Man. E Jairzinho, que era forte como um touro, estava todo pintado, ou melhor, todo "borrado" de verde, fazendo uma terrível alusão ao Incrível Hulk.
Eis que o bloco começa a desfilar pelas ruas de Santa Teresa! Muito riso, muita gargalhada, muita alegria no ar! Marchinhas dos carnavais antigos eram os hits da bandinha que acompanhava o bloco. Eu poderia até improvisar uma marchinha para o momento: "Oh, quanto riso, oh, quanta alegria e lá vem o Jorginho no cordão"...
Muita bebida, muita diversão, muita música e muita mulher bonita! E Jorginho começa a se encantar por uma belíssima loira de olhos azuis. Era uma maravilhosa Mulher-Gato! Com um justíssimo macacão preto, todo em vinil! Nossa, não sei como ela estava suportanto tanto calor! Mas mulher é assim mesmo. Faz qualquer sacrifício pra ficar bonita!
E quando Jorginho se aproxima pra perguntar seu nome, ela foi logo se adiantando:
_ "Tá fantasiado de que, hein? Veio de obra de arte?"
_"Não". Respondeu ele. "Eu sou o Destemido Guerreiro de Santa Teresa", às suas ordens". E a moça se entregou às gargalhadas!!! E entre risadas, tentava concluir seu pensamento:
_" Você tá mais pra " O Destemido Ladrilheiro de Santa Teresa". Isso, sim!" E continuou com suas risadas ininterruptas. E ele respondeu:
_" Taí, não gostei muito, não. Mas bem que achei bonito de se ouvir." E abriu um sorrisão pra loirinha.
Mas Jorginho não era um cara de se esquentar com pouca coisa, não. Pra falar a verdade, aquelas risadas todas estavam até o deixando ainda mais interessado naquela galega.
E com todo desembaraço que um considerável alto índice de teor etílico causa na coragem de um sujeito, Jorginho, tasca-lhe um beijo cinematográfico. E ela, mais que depressa, se conserta dizendo:
_" Mas você nem sabe meu nome e eu nem sei o seu!".
E ele:
_"Jorginho. Seu escravo. Agora você, com toda essa exuberante beleza, só pode ser Afrodite, a Deusa do Amor, disfarçada de Mulher-Gato. E meu coração acaba de se acorrentar a essa Vênus de Botticelli a la Hollywood".
E ela, sorrindo, já completamente enfeitiçada por suas palavras, completa:
_"Eu me chamo Teresa!".
Teresa?! Que coincidência, não acham? Talvez fosse um presságio...
E Teresa dá continuidade a seu pensamento:
_"Então, e você, com um nome desses, e uma fantasia de Guerreiro, como você mesmo falou, poderia ser São Jorge, o Santo Guerreiro! Engraçado isso, né? São Jorge junto de Santa Teresa!"...
Iiiiihhhh, pintou um clima, perceberam?
Agora, "santo"!? O Jorginho?! Tá bom! Conta outra...
E lá se foram os dois pombinhos apaixonados, dançando, cantando e se beijando pelas ladeiras de Santa Teresa.
E olha que Jorginho foi o único entre seus amigos que "se deu bem" naquele carnaval!
Agora vamos ser sinceros! O cara poderia ser pobre, não entender nada de roupa de super-herói, mas cá pra nós, tinha uma lábia do caramba, não é verdade? E tanto é, que acabaram namorando, noivando e até se casaram, alguns carnavais depois.
Mas isso, minha gente, é uma outra estória...

5 comentários:

  1. Gláucia, esta é muito especial.
    Ouro na cabeça. Jesus no coração e justiça na mão. Com todo este poder, Jorginho se rendeu a uma mulher simples que era tudo o que ele buscava. Ele a impressionou, de um modo ou de outro.
    Well, as mulheres ...
    Sempre ouvi dizer que são as donas do mundo.
    Agora agarra a parte deste mundo que te pertence.

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  2. Ahhhhhhhh!! Além de engraçada a história é linda!!! Fatos reais?

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  3. Não, Rai. Criei esta no sábado de manhã, assim que acordei. Aí, postei logo.
    Bjs!

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  4. Pois crie mais, sua crônicas são deliciosamente criativas e ternas. Beijo!

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